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Homilia do Cardeal Robert Sarah para o 400º aniversário das aparições de Santa Ana na França

  • Clipping Vitae
  • há 2 dias
  • 8 min de leitura

 

Caríssimos irmãos e irmãs da Bretanha e da França. Saúdo respeitosamente as autoridades civis aqui presentes por ocasião do 400º aniversário das aparições de Santa Ana neste lugar. O Papa Leão XIV enviou-me como seu enviado especial a este santuário de Santa Ana de Auray. Neste lugar, há quatrocentos anos, Santa Ana apareceu a Yvon Nicolazic e lhe disse: “Yvon Nicolazic, Me zo Anna, mamm Mari” (“Eu sou Ana, mãe de Maria”, em bretão, nota da editora). “Yvon, não tenha medo, eu sou Ana, mãe de Maria. Diga ao seu reitor, ao seu sacerdote, que na terra chamada Bocenno — que significa este mesmo lugar onde estamos agora — uma capela foi construída em meu nome; foi a primeira em toda a região. Por 924 anos e 6 meses ela permaneceu em ruínas; desejo que seja reconstruída o mais rápido possível e que você cuide dela, porque Deus quer que eu seja honrada ali; Deus quer que você venha até lá em procissão.” Queridos irmãos e irmãs, Santa Ana disse a Yvon Nicolazic: “Deus quis este lugar”. Deus escolheu esta terra para fazer dela um lugar santo; Deus quis que uma parte de suas terras, uma parte de seu país — a França — fosse um lugar sagrado, um lugar separado. Deus quis que seus antepassados não cultivassem este lugar, não o utilizassem para pecuária ou agricultura. Ele escolheu este lugar para ser honrado ali. Aqui reside um grande mistério, que deve ser ponderado. Havia, de fato, muitas outras igrejas disponíveis, muitos outros lugares possíveis — mas Ele escolheu este. Por quê? Primeiro, para nos lembrar que Deus vem em primeiro lugar, que a glória de Deus nos precede e não nos pertence. Deus nos criou por um ato de amor gratuito; toda a criação é obra de Suas mãos, o dom gratuito de Seu amor. […] Não merecemos Seu amor; Ele nos amou primeiro. Devemos tudo a Ele, pois é dEle que recebemos vida, movimento e ser. Para nós, que somos Suas criaturas e Seus filhos, honrar a Deus e Lhe dar glória é agir com justiça. Dar glória a Deus não é uma escolha opcional — é um dever, uma necessidade. É de suma importância que recuperemos essa consciência, especialmente em suas sociedades, que tendem a considerar Deus como morto, inútil ou irrelevante. Com muita frequência, no Ocidente, a religião é apresentada como uma atividade a serviço do bem-estar humano. A religião é equiparada a esforços humanitários, atos de caridade, acolhimento de migrantes e pessoas em situação de rua, promoção da fraternidade universal e paz no mundo. A espiritualidade é vista como uma forma de desenvolvimento pessoal, destinada a oferecer algum conforto ao homem moderno, absorto em suas atividades políticas e econômicas habituais. Mesmo que essas questões sejam importantes, essa visão da religião é falsa. Religião não é uma questão de comida ou ação humanitária. No deserto, essa foi a primeira tentação que Jesus rejeitou. Para redimir a humanidade, é preciso superar a miséria da fome e da pobreza — foi isso que o diabo propôs ao Senhor. Mas Jesus respondeu que esse não é o caminho da redenção. Ele nos mostra que, mesmo que todas as pessoas tivessem o suficiente para comer, mesmo que a prosperidade se estendesse a todos, a humanidade não seria redimida. Vemos claramente como, em terras de conforto, riqueza e abundância, o homem se destrói, se autodestrói, porque se esquece de Deus e pensa apenas em seu rico bem-estar terreno. O que salva o mundo é o pão de Deus. O homem deve ser nutrido com o pão de Deus — e o pão de Deus é o próprio Cristo. O que salvará o mundo é o homem ajoelhado diante de Deus, para adorá-Lo e servi-Lo. Deus não está a nosso serviço. Somos nós que estamos a Seu serviço. Fomos criados para louvar e adorar a Deus. É na adoração a Deus que descobrimos nossa verdadeira dignidade, a razão última de nossa existência. É de joelhos diante de Deus que o homem descobre sua verdadeira grandeza e nobreza. E se não adorarmos a Deus, acabaremos adorando a nós mesmos.


Deus escolheu este lugar para ser adorado. Deus escolheu a França para ser como uma terra santa, uma terra reservada para Ele. Não profanem a França com suas leis bárbaras e desumanas que promovem a morte, quando Deus quer a vida. Não profanem a França, pois ela é terra santa, uma terra reservada para Deus. A Bretanha é terra sagrada e deve permanecer terra sagrada — uma terra reservada para Deus. Deus deve ter o primeiro lugar lá. E nossa primeira tarefa é adorar e glorificar a Deus. É a mais alta expressão da nossa gratidão a Ele e a mais bela resposta que a nossa vida pode oferecer ao amor extraordinário que Ele nos tem. Para adorar a Deus, é preciso separar-se — em silêncio. Venha aqui no silêncio do coração, para ouvir a Deus. É isso que significa entrar numa disposição sagrada.

 

Existem lugares sagrados, lugares reservados para Deus, escolhidos por Deus — esses lugares não devem ser profanados por nenhuma atividade além da oração, do silêncio e da liturgia. Nossas igrejas não são teatros, nem salas de concerto, nem locais para eventos culturais ou recreativos. A igreja é a casa de Deus. É reservada somente para Ele. Entramos nela com reverência e veneração, devidamente vestidos, porque trememos diante da grandeza de Deus. Não trememos de medo, mas de reverência, admiração e admiração.

 

Desejo mais uma vez agradecer aos homens e mulheres bretões que sabem usar as mais belas vestimentas tradicionais para dar glória à majestade divina. Não se trata de folclore. O esforço exterior que fazeis para vos vestirdes é apenas o sinal do esforço interior pelo qual vos apresentais diante de Deus com uma alma pura — purificada pelo sacramento, adornada pela oração e pelo espírito de adoração. Os lugares sagrados não nos pertencem; pertencem a Deus. O propósito da liturgia é a glória de Deus e a santificação dos fiéis, e a música sacra é um meio privilegiado para promover a participação ativa e plenamente consciente dos fiéis na sagrada celebração dos mistérios cristãos. […]

 

Reconstruindo a Igreja da Alma

Durante as aparições, Santa Ana pediu a Yvon Nicolazic que a antiga igreja fosse reconstruída e cuidada. É difícil, é custoso, é exigente — e, no entanto, é a imagem do que Deus deseja hoje. Deus ainda quer que reconstruamos a Sua casa. Deus diz a cada um de nós hoje: “Escolhi a tua alma, escolhi o teu coração como solo sagrado, para ser adorado ali.” Sua alma batizada é um lugar sagrado — não a profane entregando-a às paixões desordenadas e ao espírito do mundo; não a profane roubando a Deus o primeiro lugar. Se a igreja da sua alma está em ruínas, então ouça o chamado de Deus. É hora de reconstruí-la — e reconstruí-la sobre a rocha, o fundamento sólido sobre o qual devemos construir nossa vida e nossa esperança.

 

Sim, é hora de reconstruir a igreja da sua alma. É hora de você se confessar: confesse os pecados que cometeu em palavras ou ações, de noite ou de dia; confesse agora, neste tempo favorável, e no dia da salvação receba o tesouro celestial. "Acima de tudo, vigie a sua alma", diz São Cirilo de Jerusalém. É hora de cuidar dela — reservando a cada dia um tempo real de oração profunda e silenciosa. É hora de expulsar os ídolos do dinheiro, das telas, da sedução fácil e vulgar. Deus quer o seu coração. Deus quer a sua alma, assim como Ele queria esta terra da Bretanha.

 

Sua alma é um lugar sagrado — cuide dela. É somente lá, no santuário sagrado da sua alma, que Deus pode falar com você, consolá-lo e atraí-lo de volta para Si por meio de uma conversão radical. É Somente dentro deste santuário interior você pode ouvir Seu chamado à santidade, a ser um adorador. "Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo." É neste lugar interior e sagrado que você, jovem, pode ouvir Seu chamado ao sacerdócio ou à vida religiosa. E você, jovem, pode ouvir Seu chamado para se consagrar a Ele na vida religiosa, oferecendo seu corpo, seu coração e toda a sua capacidade de amar. Se você profana este lugar interior da sua alma com uma vida dominada pelo pecado e pelas distrações mundanas, corre o risco de perder a sua vida; corre o risco de nunca se tornar verdadeiramente você mesmo.

 

Meus amados irmãos e irmãs, não roubemos de Deus o sagrado santuário da nossa alma. Deus o criou; Deus o redimiu — não profanemos o nosso corpo. Nosso corpo é o templo de Deus, e o Espírito de Deus habita em nós. Não destruamos este templo, pois o templo de Deus é sagrado — e esse templo somos nós. Deus nos confiou esta terra para que a cuidemos e O adoremos em silêncio. Deus assim o quer. Deus assim o quer.

 

Olhando para Santa Ana em meio à provação

Queridos irmãos e irmãs, Deus escolheu este pedaço de terra na Bretanha com um propósito especial; Ele quis ser honrado aqui através da veneração de Santa Ana. Não há outro lugar no mundo onde Santa Ana tenha aparecido. Que privilégio! Que graça! Que mistério! Santa Ana traz aqui uma mensagem particular — ela que, com Joaquim, não teve filhos devido à idade avançada. Seu coração deve ter estado cheio de tristeza e ansiedade. Que sofrimento para o coração de uma mulher que anseia ser mãe, mas vê sua espera prolongada.

 

Quantas vezes Santa Ana deve ter se perguntado: A culpa é minha? Por que tanta provação? Certamente entre vocês há homens e mulheres que sofrem por não terem filhos. Certamente entre vocês há pais cujos corações, como o de Santa Ana, estão tomados pelo sofrimento, pela angústia e pela preocupação — por crianças doentes, por aqueles que abandonaram a fé e parecem se afastar de Deus, ou por suas famílias, ou por sua pátria que parece ameaçada.

 

Nossas provações e sofrimentos às vezes nos mergulham em um estado de profunda perplexidade. Por que a morte de uma criança? Por que o sofrimento de um inocente? Por que a guerra? Por que a traição? Por que, Senhor? Às vezes nos sentimos abandonados por Ele. Aparentemente, Deus não está mais presente; para a Europa, Deus está morto. Deveríamos nos rebelar? Deveríamos acreditar que Deus se tornou indiferente a nós? Deveríamos abandonar a prática religiosa porque Ele não ouve nossas orações? Deveríamos parar de rezar e de frequentar a missa dominical? Olhemos para Santa Ana e ouçamos sua voz. O que ela faz? Ela se rebela contra Deus? Ela se afasta dEle? Não, ela permanece em adoração. Deus é maior do que nossos mal-entendidos, maior do que nossas dúvidas. Deus é maior do que nossos corações. Diante do mal, não temos respostas prontas; não temos respostas humanas. Diante do mal, temos apenas uma resposta: a adoração. Nossa única resposta ao mistério do mal é a adoração silenciosa. Sim, o mal é incompreensível, mas pela fé, sabemos que a adoração confiante em Deus é mais forte do que o absurdo do mal.

 

Santa Ana veio aqui para dizer aos bretões e a toda a França — e, por meio deles, aos homens de todos os países e lugares — que a adoração é o único remédio para o desespero. A fé em Deus e a adoração a Deus são os únicos remédios capazes de conceder aos homens uma paz firme e duradoura. […]

 

A todos vocês que sofrem, eu lhes digo: olhem para Santa Ana. A todos vocês que desesperam por seus filhos, seus pais, sua pátria, olhem para Santa Ana. Como ela, perseveremos na adoração. A adoração a Deus jamais nos decepcionará. A adoração paciente e silenciosa de Santa Ana tornou possível o nascimento de Maria, a mãe do Salvador, a mais bela, a mais pura, a mais santa de todas as criaturas. A todos vocês, cujos corações carregam sofrimento e tristeza, sua adoração frutificará em esperança. A adoração perseverante e incansável rompe as trevas e traz a luz da esperança. […]

 

Mesmo quando tudo parece escuro, podemos sempre dizer, com o nosso amado Papa Leão XIV, que o mal não triunfará, o mal não prevalecerá. Deus, o nosso Deus, é infinitamente bom, infinitamente belo, infinitamente grande. Hoje, com Santa Ana, neste lugar abençoado e escolhido por Deus, que este grito de amor se eleve em cada um de nossos corações: “Venham, adoremos o Senhor, venham, adoremos-O, prostremo-nos diante dEle, ajoelhemo-nos diante do Eterno, nosso Criador, pois Ele é o nosso Deus. Amém.”

 

 

 
 
 

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