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Implosão demográfica: a morte do país do futuro

  • Clipping Vitae
  • 18 de jul.
  • 5 min de leitura

Em seu célebre livro, Brasil, um país do futuro, o grande escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942) registrou a sua empolgação com o país no qual viveria os seus últimos anos de vida. Uma passagem relevante afirma:

“(...) Pela primeira vez, comecei a perceber a grandeza inconcebível daquele país que não deveria ser chamado de país e sim de continente, um mundo com espaço para trezentos, quatrocentos, quinhentos milhões de habitantes e uma riqueza incomensurável, da qual nem a milésima parte foi explorada ainda sob o solo farto e intacto... Um país cuja importância para as próximas gerações é inimaginável até fazendo as combinações mais ousadas.”

Em 1941, ano em que a primeira edição do livro foi publicada, o Brasil tinha pouco mais de 42 milhões de habitantes e, mesmo sem um conhecimento mais aprofundado de demografia e economia (os dados a respeito lhe foram fornecidos por seu amigo, o industrial Roberto Simonsen), a sua expectativa de que a população nacional poderia atingir a casa das centenas de milhões não era disparatada, dado o vasto potencial de desenvolvimento do país. 

De fato, ainda em meados da década de 1970, o célebre relatório NSSM-200 do Conselho de Segurança Nacional dos EUA (do qual voltaremos a falar adiante) estimava que haveria 212 milhões de brasileiros na virada do século. Mas este número foi atingido apenas em 2024.

Um país que encolhe: o colapso silencioso da fertilidade brasileira

A redução do impulso de crescimento da população está diretamente vinculada à drástica queda da fertilidade feminina, que literalmente desabou nas últimas seis décadas, da média de 6,3 filhos por mulher em idade reprodutiva em 1960, para os atuais 1,6 registrados pelo IBGE no Censo de 2022. Em 2000, o índice ainda era de 2,4, ligeiramente acima da taxa de reposição da população, de 2,1, o que implica simplesmente em uma implosão demográfica no país, em menos de duas gerações.

Trata-se de uma ameaça muito mais grave do que as chamadas emergências ambientais, supostas ou exageradas, que frequentam os noticiários e têm influenciado as políticas públicas, e para a qual ainda não há resposta simples, como estão descobrindo outros países às voltas com ela. Entre outros, são os casos do Japão, China, Coreia do Sul, Itália, Alemanha, Rússia, Espanha e Portugal, onde a população já diminui em termos absolutos.

O problema é complexo e resultante de múltiplas causas, combinando fatores econômicos, sociais e culturais, tendo estes últimos uma relevância nem sempre devidamente avaliada. 

Por exemplo, nestes últimos tempos de preocupações exageradas com o clima do planeta, não poucos jovens da geração Greta Thunberg fazem uso delas para justificar a opção de não terem filhos

Para o Brasil, a tendência sinaliza o desperdício do bônus demográfico (população em idade de trabalho maior que a inativa), que permitiu o enriquecimento das nações desenvolvidas, não havendo exemplo histórico de alguma que tenha prosperado depois de sua população envelhecer, uma das consequências da queda da fertilidade abaixo da taxa de reposição. 

Ou seja, o país terá que encarar o dilema do enriquecimento com novas regras, que precisarão ser cuidadosamente pensadas e implementadas com o suporte de políticas públicas adequadas, inclusive, econômicas, educacionais, de saúde pública e previdência social – cuja eficácia, no entanto, não pode ser assegurada de antemão. 

Sem dúvida, um desafio e tanto, principalmente, para uma nação cujas lideranças parecem ter abandonado a disposição para o discernimento e enfrentamento dos seus problemas reais, acomodando-se, nas últimas décadas, a receber dos centros mais avançados a listagem deles e o respectivo receituário de soluções, ou melhor, pseudo-soluções.

Um exemplo notório é a agenda ambiental, com as atenções do governo Lula se concentrando na conferência climática COP30 e os ambientalistas, com forte apoio de setores do Judiciário e do Ministério Público, investindo contra empreendimentos e projetos produtivos de toda sorte, quando o país necessita fundamentalmente de iniciativas multiplicadoras de valores. Enquanto o enorme déficit de saneamento básico – este, sim, o problema ambiental número um – não recebe sequer uma fração da atenção necessária.

Mas um aspecto menos reconhecido do problema é o fato de que os aspectos culturais que resultaram na queda vertical da taxa de fertilidade em países como o Brasil terem sido, em parte, influenciados por agendas elaboradas nas pelos “engenheiros sociais” das oligarquias anglo-americanas a partir das décadas de 1950-60, para promover o malthusianismo – controle dos níveis de população – como instrumento hegemônico restritivo do desenvolvimento econômico e industrial nos países do chamado Terceiro Mundo. 

O já citado relatório NSSM-200, de 1974, intitulado “Implicações do crescimento da população mundial para a segurança nacional e os interesses externos dos Estados Unidos”, elaborado pelo Conselho de Segurança Nacional estadunidense, então chefiado por Henry Kissinger, promovia meios de implementação de programas de redução de população em tais países, com a finalidade básica de preservação dos seus recursos naturais para usufruto dos interesses estadunidenses. Entre eles, 13 “países-chave” são destacados pelo “especial interesse estratégico e político para os EUA”: Brasil, Índia, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, México, Indonésia, Filipinas, Tailândia, Egito, Turquia, Etiópia e Colômbia.

Entre os problemas apontados, mencionam-se os “problemas comerciais que os EUA poderiam enfrentar, provenientes da competição pelos recursos” e a “probabilidade de que o crescimento da população produza desequilíbrios ou interrupções nas políticas externas e instabilidade internacional”.

Entre outras medidas, os autores preconizam programas educativos que tenham efeitos diretos sobre a fertilidade, propondo a adoção de técnicas de “educação e doutrinamento das novas gerações de crianças, considerando os benefícios de famílias menores”. 

A ideologia ambientalista e o vasto movimento global que a promove foram criados e são financiados e promovidos por tais grupos.

Trata-se de uma forma disfarçada de promoção da limitação da população, usando o falacioso conceito de que a “escassez de recursos naturais” e a fragilidade do meio ambiente seriam obstáculos para a extensão dos níveis de vida das nações industrializadas aos demais países. 

Desse impulso malthusiano, provém igualmente a disseminação do identitarismo como elemento de doutrinação cultural, cujo impacto sobre as taxas de fertilidade não é desprezível.

O Brasil sonhado por Stefan Zweig, pelo menos nas dimensões populacionais, não se concretizará em um futuro previsível. Porém, se os brasileiros pretendem construir um país capaz de oferecer-lhes perspectivas de vida dignas, será preciso estender seriamente as suas atenções muito além do clima de 2050, da “destruição da Amazônia”, das metas de inflação e do ajuste fiscal, da polarização ideológico-política e das eleições de 2026.


Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco é jornalista, presidente do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) e da Capax Dei Editora; autor dos livros "Conselho Indigenista Missionário: Filho da Mentira" (2016) e "Una mirada al mundo y a los valores que cimentan un nuevo orden mundial" (2012); coautor de "Máfia Verde: o ambientalismo a serviço do Governo Mundial" (2001), "Máfia Verde 2: ambientalismo, novo colonialismo" (2005), "A hora das hidrovias: estradas para o futuro do Brasil" (2008), "Quem manipula os povos indígenas contra o desenvolvimento do Brasil: um olhar nos porões do Conselho Mundial de Igrejas" (2013), "Uma nação desarmada" (2016) e "A missão da Rússia na mudança de época global" (coord., 2019), todos publicados pela Capax Dei Editora.**Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.


 
 
 

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